terça-feira, 7 de maio de 2013

Dos mitos e pânico na beleza


Raramente passa um dia em que não me depare com um disparate qualquer relacionado com beleza algures. Seja em conversa com alguém, seja na rádio, seja na tv ou na internet. O pior de tudo é quando vêm de pessoas em quem sei que os leitores confiam. Apesar de tentar sempre manter uma posição mais imparcial neste blogue, chego a uma altura em que acho que tenho de elucidar determinados aspectos, sendo que hoje vou abordar dois que me têm chateado nos últimos tempos.

Alarmismos 

Desde sempre que as coisas funcionam por modas. E pelo que tenho visto, a grande maioria dos alarmismos que têm aparecido por aí surgem por uma de duas formas: ou alguém decide ler a lista de ingredientes sem saber ler listas de ingredientes, ou alguém lê algo sobre algum artigo científico que foi mal interpretado. 
Quanto às listas de ingredientes, o exemplo mais clássico é o do chumbo nos batons. Quantas de vocês não leram já artigos/posts com frases do género "Este produto contém [introduzir nome do ingrediente], que caso não saibam, também faz parte da composição de produtos de limpeza/tintas/etc". Aquilo de que as pessoas se esquecem é que existe uma frase muito célebre de Paracelso que diz "A diferença entre um remédio e um veneno está só na dosagem" (e embora tenha sido das poucas coisas acertadas que ele disse, está realmente muito certa). É que se fôssemos a levar a sério o facto de uma substância não poder ser usada em cosméticos só porque faz parte da composição de outros tipos de produtos, bem podíamos deixar de beber água porque faz-se cimento com ela. Penso que percebem o ridículo da afirmação, não é? Também têm de ver que, por exemplo, enquanto que produtos como o dióxido de titânio estão classificados como cancerígenos, podem ser cancerígenos por exemplo por inalação ou ingestão, e não por aplicação tópica, o que significa que não há problemas em usá-lo em cosméticos, que são apenas aplicados na pele. Existem entidades reguladoras que, caso haja provas de que uma substância realmente é prejudicial, faz com que esta seja proibida e todos os produtos que a contêm sejam retirados do mercado até reformulação de modo a deixar de a conter.
A parte dos artigos científicos, bem sei que já é mais complicada. Mas o melhor conselho que vos posso deixar é: na ausência de conhecimento científico, leiam tudo com um grande ponto de interrogação na cabeça. Aquilo que precisam de saber é que se um estudo encontrou provas de que determinada afirmação pode ser verdade, são precisos mais uns quantos para verificar que realmente é verdade.

Tudo o que não é natural é tóxico, tudo o que é natural é bom

Eu, por exemplo, sou alérgica a morangos. Eu sei que parece uma frase parva com a qual começar esta secção, mas não é, uma vez que os morangos (mesmo os cultivados pelos meus pais, sem quaisquer químicos) me fazem mal e são de origem natural. Isto para se relembrarem que nem tudo o que é natural está livre de reacções adversas. Por outro lado, nem tudo o que é sintético (produzido pelo homem) é mau, e a grande maioria tem mesmo origem natural, sendo apenas ligeiramente modificado na indústria.
Já vi o marketing de produtos naturais referir-se a produtos sintéticos como tóxicos, mas tal como no tópico acima, quase tudo pode ser medicamento ou veneno, a diferença está na dose. Só por serem de origem industrial, não quer dizer que os produtos sejam mais ou menos prejudiciais. A grande diferença aqui é apenas o facto de não existirem naturalmente. Além disso, acho que não preciso de vos relembrar a quantidade de toxinas naturais que existem pelo mundo.
Aquilo que precisam de ter em conta em relação a uma substância é o conjunto das suas características em relação às vossas necessidades, não se é de origem natural ou sintética.

Resumindo

Não sejam vítimas do marketing, sejam pessoas informadas. Muitas vezes aquilo que vêem alguém dizer, teve como origem um qualquer mito que uma marca resolveu instituir de modo a conseguir cobrar uns euritos extra pelo seu produto revolucionário-que-afinal-não-é-tão-revolucionário. O que acontece muitas vezes é que a equipa de marketing cria junto do consumidor uma nova necessidade, de modo a que o consumidor procure uma solução para essa necessidade que, surpreendentemente, eles oferecem.
Outras vezes, são apenas pessoas menos informadas, mas que têm muita influência (infelizmente não existe uma lei que obrigue a que quem tem influência seja uma pessoa inteligente e informada) que recebem uma informação errada que não são capazes de perceber que não é correcta, e a disseminam.
E mais infelizmente ainda, hoje em dia toda a gente acha que é especialista em beleza e, quando se acha muito uma coisa, é fácil convencer os outros e levá-los a cometer erros crassos. Por isso mantenho o que fui repetindo: informem-se, de preferência junto de alguém que sabe o que faz. Se querem alguns exemplos, ei-los Caroline Hirons, Colin's Beauty Pages, The Beauty Brains e em português as minhas companheiras da área de farmácia Make Down e Mantinha de Retalhos.

3 comentários:

  1. Concordo em parte com aquilo que dizes mas a partir do momento em que a maioria das pessoas come alimentos industriais, processados e genéticamente modificados (que fazem bem pior ao organismo que os parabenos) essas mesmas pessoas perdem um bocado a moral para dizer que os SLS fazem mal ao cabelo, não compreendo sinceramente toda a hísteria á volta dos ingredientes naturais nos cremes.

    Pessoalmente dou preferência aos produtos que não tenham óleos minerais na sua composição, eu sei que não são prejudiciais mas noto muita diferença, para melhor, quando uso os naturais.

    Beijinhos
    Vanessa

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  2. Bom dia! :)

    Li com muita atenção o texto e achei-o extremamente completo e interessante! Se não te importares, peço-te autorização para partilhar o link lá no meu facebook, posso? Desculpa pela audácia, mas é de louvar quanto existem posts e informativos e correctos cientificamente :)

    Beijinhos,

    Maria Inês (Mantinha)

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  3. Estás à vontade e até agradeço :D

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